sábado, 1 de dezembro de 2012

Darwinismo e Igreja: os primeiros contatos

        É importante lembrar que o Darwinismo propriamente dito caiu já na década de 1980 - especialmente aí ganham força as críticas que vem a derrubar alguns pilares da teoria,  como o gradualismo evolutivo -, apesar de ainda ser ensinado descriteriosamente nas escolas. O evolucionismo, ainda assim, está longe de morrer no meio científico.
        Também pra quem pensa que o ateísmo é o único que comporta o evolucionismo, e que essa é a única coisa que faz sentido no mundo (se faz), e chama correntes alternativas de inconsistentes, vale saber que a coisa não é bem assim. Um pouco disso vai dar pra se pegar na leitura e talvez no link pra uma segunda postagem, mais antiga - e adiando que provavelmente com um ou outro argumento desatualizado -, que vou pôr lá em baixo, pra quem aguentar o tranco de ler tudo. xP
         O texto abaixo não é uma crítica ao darwinismo e nem uma apologia, sendo só uma análise dos primeiros contatos entre ele e a Igreja, no século XIX, acompanhado de uma análise da origem do conceito "fé vs. religião". Uma surpresa pra quem pensa que foi só quebra-pau! Diferente da maioria dos outros artigos, neste eu não vou defender meu ponto de vista. Coisa de acadêmico de história - já que esse foi pra entregar -, encargos do ofício. :P
         Mas no mais, é isso! A quem se interessa pelo assunto, bom proveito!

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Darwinismo e religião:
os apoiadores da teoria na Igreja do século XIX

      O darwinismo foi sem dúvida um movimento de ruptura como poucos e teve grande valor representativo nas mudanças ideológicas ocorridas no século XIX. Ao contrário do que se pensa, porém, o grande embate ideológico nem de perto se restringia ao âmbito religioso, influenciando de alguma forma praticamente toda a ciência e sociedade do período. Ainda assim, a Igreja não foi una em suas proposições, com representantes tanto opositores como apoiadores da inovadora teoria, frisadamente nos meios anglicano e católico, dos quais se tratará no decorrer do artigo.
Em novembro de 1859 o naturalista Charles Darwin publica a obra intitulada “A Origem das Espécies”, que se tornaria não apenas um clássico, mas um parâmetro e um verdadeiro divisor de águas no meio científico. A premissa básica era a da origem comum entre os seres vivos e da evolução gradativa de todas as formas de vida tendo por base de funcionamento o processo de seleção natural. Seu conteúdo questionou a compreensão tradicional de mundo do período em pontos sensíveis, e seria a aparente mais poderosa arma no famoso enfrentamento entre "fé e ciência", que tomaria força como nunca antes entre estudiosos, contradizendo todo o recorrente criacionismo literal, pregado pela Igreja - ou parte da - de então. Não por nada a obra é por muitos vista como o estopim do o nascimento do ateísmo moderno.
Ainda que não tenha havido aceitação plena por parte da Igreja, como bem se sabe, a mesma num primeiro momento não parece ter em unanimidade encontrado fortes empecilhos ou ameaças diante da nova linha teórica. A Igreja Católica sabidamente tomou como primeira posição uma recusa, todavia a Igreja Anglicana, conterrânea do naturalista, parece um exemplo oposto, ainda que logo antes tivesse com firmeza se posicionado contra a proposta de Lamarck.
A interpretação do criacionismo de Gênesis como literal seria a grande corrente opositora entre religiosos. Segundo o Pe. Gregory Tatum, École Biblque, o enfoque na interpretação literal do criacionismo de Gênesis, que tanto contrasta com as proposições darwinistas, não tivera tanta vazão na Igreja Anglicana em virtude de uma proposta da própria reforma, que consistia na ruptura com específicos traços da dogmática católica. A interpretação literal da criação, segundo ele, entrava em contrariedade com o ideário conhecido da própria Igreja cristã primitiva, onde teoricamente se discutiam mais ensinamentos que literalidades dos textos, realidade que mudaria com a influência do cristianismo ocidental e seu direcionamento dentro do ambiente romano. Já antes do século XIX, portanto, cristãos vitorianos consideravam a não literalidade da linha temporal bíblica, tese reforçada pelas próprias descobertas de fósseis na primeira metade do século, forte fonte de estudos nos entremeios científicos anglicanos, que por si só cooperariam para pôr a linha teórica em cheque. Estes avanços nos estudos de fósseis e rochas levariam os geólogos do período a proporem a existência prolongada da terra antes mesmo de Darwin, tendo esta então idade indiscutivelmente maior que a de 6.000 anos, sugerida por Ussher, que calculara seguindo a genealogia bíblica, desconsiderando as possíveis lacunas. A fundamentação antes de Darwin é citada pelo próprio:

“Até pouco tempo atrás, a maioria dos naturalistas era da opinião de que as espécies seriam produções imutáveis, criadas separadamente. Esse ponto de vista foi sustentado por muitos autores. Outros, no entanto, acreditavam que as espécies sofriam modificações, e que as formas de vida atuais eram os descendentes diretos de outras formas de vida preexistentes [...]”. (DARWIN, 1859, p.13).

           Durante grande parte do século XIX a ciência foi uma espécie de extensão da igreja, inclusive na Inglaterra, com clérigos anglicanos ocupando altos postos em universidades de porte como Oxford e Cambridge. Cientistas anglicanos não apenas não contradisseram a teoria como foram apoiadores, o que se sustenta no fato de que a produção científica à qual então tinham acesso já apontava em direção semelhante. O reverendo anglicano Charles Kingsley ilustra o fato no período afirmando que a evolução revelara “uma nobre concepção da Divindade”. Os cristãos vitorianos, como se viu, já nutriam uma concepção de formação da Terra razoavelmente sofisticada, construindo o campo para que o darwinismo não fosse repudiado de forma imediata. Mas é inegável que ainda assim o episódio causou uma ruptura com a visão tradicional de forma bastante saliente. Ainda que já houvesse tendências e pensadores racionalistas antes de então, notadamente na Inglaterra e na Alemanha, esse traço do protestantismo que possibilitou a abertura para esta nova concepção como um movimento distinto tem bases no século XVIII partindo de Semler, como cita Hurlbut:

   “A Reforma estabeleceu o direito de juízo privado acerca da religião e da Bíblia, independente da autoridade sacerdotal e da Igreja. Um resultado inevitável aconteceu: enquanto alguns pensadores aceitaram as idéias antigas da Bíblia como livro sobrenatural, outros começaram a considerar a razão como autoridade suprema e a defender uma interpretação racional, não sobrenatural, das Escrituras. Aqueles que seguiram a razão, em prejuízo do sobrenatural, foram chamados “racionalistas”. Embora o germe do racionalismo já existisse na Inglaterra e na Alemanha desde o início do século XVIII, suas atividades como movimento distinto começaram com Johann Semler (1725-1791), o qual defendia que coisa alguma recebida pela tradição deveria ser aceita sem ser posta à prova [...]” ( HURLBUT, 2007, p. 207-208)

No âmbito de influência católica também houve, mesmo que em menor número, homens como o cardeal John Henry Newman, que apoiavam as novas e polêmicas ideias. Em famosa citação, declara Newman: “O darwinismo, verdadeiro ou não, não é necessariamente ateísta. Pelo contrário, pode estar apenas sugerindo uma ideia mais ampla da providência e sabedoria divinas”.
Entre os principais argumentos de sustentação da conciliação entre o criacionismo e a teoria evolucionista de Darwin estava o da atemporalidade de Deus, proposta por Agostinho, que permitia que a criação ocorresse em milhões de anos, que para Deus sem problemas poderiam ser como dias. Esta foi a base para o que passaria a se chamar “evolucionismo teísta”, uma linha de grande vazão até os dias de hoje, ainda que com alterações em linhas gerais desde o século XIX. Neste caso apontava-se ao fato de que a visão que originara os escritos de Gênesis revelava as fases pelas quais passara a criação, e não dias literais. As fases da criação se equiparariam de forma aceitável com as linhas evolutivas que então se propunha, abrindo margem à interpretação de que a idade longa da Terra, bem como a evolução, se faziam então viáveis diante do relato bíblico. Para os mestres da Igreja, Deus não se relacionaria com a criação como mero espectador, e nem agiria arbitrariamente, mas conduzia a vida e seus processos. Se houvesse, portanto, de fato ocorrido a evolução, Deus é quem teria garantido a perfeição dos processos que conduziram às formas de vida sofisticadas que hoje conhecemos, garantindo que viessem a se tornar exatamente o que são.
O maior contraponto ideológico encontrado pelo darwinismo no momento em que este surge, e sendo este a provável maior base de argumentação dos que inicialmente se contrapuseram à teoria, partia do teólogo britânico William Paley, que basicamente comparava a complexidade da criação sustentando a vida com os mecanismos internos de um relógio, equilibrados e funcionando como um todo com exatidão, uma vez que a vida seria tão sofisticada e carecida de equilíbrio e cálculo, que cada criatura deveria ter sido individualmente projetada. No contexto de revolução Industrial, uma concepção que lograva atenção e identificação. Uma forma de ver a Deus como um grande mecânico, um projetista fundamental.
Mas a verdadeira guerra entre o darwinismo e a religião, o acirrado embate da famosa temática “fé vs. razão”, claramente não se iniciara com a força que conhecemos no início do contato com o naturalismo, e carece entender então em que momento esta se deu. Alega-se que o embate em larga escala teve sua primeira fagulha no Cinturão Bíblico americano, num debate essencialmente político e moralista, no alvorecer da década de 1920. A teoria lograva aceitação nos EUA, mas era crescente a tendência extremista no cristianismo. No Estado de Tennessee não demorou a vigorar lei proibido o ensino do darwinismo nas escolas, situação onde ocorrera o famoso caso de John Scopes, professor preso por desacatá-la. Em 1925, em tribunal na cidade de Dayton, foram organizadas reuniões visando discutir as conjunturas legais nas quais houve forte embate entre liberais e conservadores; os primeiros defendendo a liberdade indistinta de ideias, e os oponentes defendendo a censura a ideias “não bíblicas”. Ficou conhecido este momento como “O Julgamento do Macaco”, pela ênfase dada às questões naturalistas. Liderando o processo contra a difusão das ideias darwinistas estava William Jennings Bryan, um fundamentalista cristão e socialista, que via no darwinismo um dos motivos da queda da moralidade norte-americana, atacando toda a linha ligada à teoria mesmo no que transpassasse o darwinismo científico, a exemplo enfático do “darwinismo social”, que representaria a selvageria do capitalismo no período. Do lado oposto estava Clarence Darrow, alegando defesa ao darwinismo e à liberdade de ensino e expressão de ideias, sem distinção, mas atribuindo ao uso efetivo da seleção pelo mais forte e apto - favorecendo os encaminhamentos do capitalismo de então, atacados por Bryan - uma base social melhor que a cristã, que não faria essa distinção. Aí iniciaria, portanto, a fase mais direta da "guerra" cuja presença tanto vemos ainda em nossos dias.
O contexto de Darwin fora menos inflamado que o do século XX. Vale lembrar que em boa parte da vida foi ele também cristão. Ainda que se unam os fatores da perda de sua crença com a proposição de sua teoria, é sabido o momento da morte de Annie, sua filha, como o ponto a partir do qual passara Darwin a negar de fato sua fé. Todavia mostrou ele ao longo da vida evidentes indícios de uma crença persistente em Deus, e um exemplo está em uma carta de sua autoria escrita um ano antes de seu falecimento, em resposta a uma obra que em tese criticaria o evolucionismo por ele proposto, em 1881, na qual redige: "Devo dizer-vos que em vosso livro 'Pretensões da Ciência' expressastes a minha profunda convicção, e mesmo mais eloquentemente do que eu saberia fazê-lo, isto é, que o universo não é e nem pode ser obra do acaso"; bem como outra carta, esta escrita em 1873, na qual consta o trecho: "Posso afirmar-vos que a impossibilidade de considerar este magnífico universo, que contem o nosso 'eu' consciente, como obra do acaso, é para mim o principal argumento em favor da existência de Deus". A incompatibilidade entre o darwinismo e religião, portanto, não representou num primeiro momento o embate que toma a memória popular, aparentemente nem por parte de Darwin.
Ainda que vejamos hoje o atrito que há entre a teoria e suas linhas decorrentes com os posicionamentos criacionistas, nem sempre foi assim. Mesmo entre religiosos do período, como vimos, surgiram tanto opositores como apoiadores da advinda proposta.
O darwinismo foi um movimento de extrema relevância na ciência e no pensamento do século XIX, e indubitavelmente forma uma das bases para o que veio a se fazer hoje a ciência e mesmo a sociedade. É um assunto rico e distante de se esgotar, carecendo ainda de análises, estudos e da atenção que inegavelmente sua relevância lhe remete.


Ticiano Castoldi.

Havendo interesse, postagem de tema semelhante: Seria Deus um evolucionista?

Referências

*DARWIN, Charles – A Origem das Espécies. Coleção A Obra-Prima de Cada Autor, 2ª edição, São Paulo – SP: Martin Claret, 2004.
*HURLBUT, Jesse Lyman – História da Igreja Cristã. São Paulo-SP: Vida Acadêmica, 2007.
*DOWLEY, Tim – Os Cristãos: Uma História Ilustrada. São Paulo – SP: Martins Fontes, 2009.
*Doc.: BBC London - Did Darwin Kill God, 2009.
*educacao.uol.com.br
*alansemeador.xpg.com.br

É isso aí, gurizada! Abraço! :P

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A rosa, a tela e o soldado

oscaminheiros.blogspot.com
  Adianto que essa postagem aqui não é das melhores e tem um cunho "pessimista", alguns diriam. É um dos ângulos da incumbência de viver nesse mundo. O ponto é que nos últimos dias o número de amigos que tem se chegado a mim com problemas pra resolver e, como dizia o seu Werner, com verdadeiras “explosões internas”, extrapolou o normal. Eu mesmo não tenho o hábito externar angústias quando elas surgem, aquela sensação de ter de encontrar um rumo e tal. E querendo ou não, mesmo aquelas pessoinhas meigas que andam sempre com um sorriso estampado no rosto tem um universo extremamente complexo dentro de si. No fundo a gente conhece de verdade as pessoas quando elas nos dão acesso a esse mundo particular. Sem descobertas hoje, só percepções que tem se posto diante de mim de forma mais clara do que esperava.
  O que isso tudo me lembra é aquela saudade que as pessoas tem da infância. Por que? Porque a meu ver a infância termina com um susto. A maturidade em certo ponto de vista é alcançada desse jeito, quando no meio dessa estradinha damos de cara num muro, que nem de perto pensávamos que estaria ali. Esse susto marca o início da percepção de que nossa visão era uma bonita utopia e de que o mundo tem, na realidade, muito de hostil, e de que pra viver nele careceremos de força, o tal do jogo de cintura e, em alguns casos, bastante das duas coisas. Não sei... Talvez muitas das nossas concepções e esperanças se fundamentem nessa segurança primordial, e provavelmente essa referência nos seja em vários aspectos um suporte pras lutas que vem quando chega a nossa vez de dar uma de gente grande. Pra algumas pessoas essa infância acaba cedo demais, e nessa linha de raciocínio faz todo o sentido a quebra de estruturas que chamamos de “traumas”. Não tenho bala na agulha pra argumentar no âmbito da psicologia, então vou evitar pegar esse rumo de forma direta pra me ater aqui nessas percepções meio esparsas. Em suma, com tudo o que tem de belo, não, o mundo não é legal. E se pra ti tá tudo lindo, criatura, te falta dar uma volta por aí pra entender a situação.
  São engraçadas essas frases corriqueiras como: “pessoas inteligentes são menos felizes” ou “pensar demais faz mal”. Não estou aqui pra aconselhar em linhas claras um masoquismo psicológico – não me parece necessário -, mas acredito que isso se ilustre bem no fato de que, quando olhamos essa rosa com mais atenção, percebemos que mais do que uma flor, ela é uma grande vara verde cheia de espinhos que vamos ter que colher pelo caule e apertar com força.
  Se há algum indício da sabedoria que alegamos ter recebido Salomão nos tempos bíblicos, é o livro de Elcesiastes. Andei relendo-o, e acabou por complementar o que me veio com esses últimos tempos. O argumento é basicamente o de que tudo o que o homem faz é uma grande inutilidade, e tudo o que construímos um dia vai ser esquecido, assim como foi esquecido o que fizeram os antigos. E uma geração vai e outra vem, e nada nesses nossos grandes objetivos de vida na verdade tem importância. A vida é um sopro, e quando tu percebes, já soprou. Aí, meu velho, grande merda tudo o que foi feito ou não. Vai passar, vai ser esquecido, vai acabar junto com tudo o que por algum motivo - invariavelmente não tão importante assim - foi construído. E tudo o que fazemos parece se resumir a aflição, a correr atrás de algo na vida que nem sabemos direito em que realmente consiste. Tudo, tudo o que fazemos é completa inutilidade movida por uma real aflição de espírito encrustada no âmago do que somos.
  É uma visão cruel acerca de um mundo cruel. E não me entenda mal, eu sei que “o mundo é belo e cheio de coisas belas”, e temos muito pelo que agradecer. Mas nesse mundo doente, no que toca a segurança emocional humana, isso não difere muito dos alegres e seguros fundamentos de uma infância saudável, infelizmente diretamente dependente de inocência, no sentido de ignorância em relação à realidade do mundo, mesmo. Aliás, quando realmente não se está bem, não há vento na cara que resolva, apesar de sempre ter sua graça. xP
  Mas Salomão encerra o livro, e esse é o ponto mais importante, após a percepção de que é tudo inutilidade, atentando para algo que parece dessa vez nos dar coordenadas, algo que parece fazer sentido que façamos: “Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem”. Lewis talvez exemplifique bem o que Salomão diz após tudo com a frase “o que não é eterno, é eternamente inútil”.
  No fim das contas vento, chuva, folhas, montes, cidades, amor, apreço, amizades, ajuda mútua e tudo o que há de melhor no mundo e no homem, tem valor. Tudo isso nos mantém, e está, sim, entre o que há de maior. Não pela utilidade em si, mas porque apontam a uma realidade maior e eterna, e falam sobre um pouco do que origina essa nossa incompletude. Nos aponta algo que perdemos, e leia-se nisso a plenitude de segurança, beleza, simplicidade... E algo que nem a infância pode oferecer, que é a dita sensação de se estar onde RAIOS se deve estar, condição que se encaixa, enfim, com o que somos. No ponto de vista bíblico, é justamente essa a percepção à qual teremos acesso. Uma direção que põe um ponto nessas mediocridades sem pôr um ponto no novo.
  Tudo o que queremos, acredito, é que as coisas façam sentido. A ruptura do homem com Deus é basicamente a perda um mecanismo da própria essência. A questão é religar os pontos. Pra um cristão os problemas continuam, as dúvidas também, e não adianta fingir que não. Mas a cada cambaleio, Deus faz mesmo aquela diferença que só na prática se entende.
  A vida é difícil, estamos num mundo corrupto e doente, mas há vários anos uma imagem tem me feito montar uma percepção, a meu modo, disso tudo. A vida diante de Deus é como se fosse uma tela que vamos expor daqui a algum tempo. E temos que nos virar com as tintas que nos vem. Não queríamos a verde, mas ela veio. Queríamos aquela cor vinho numa quantidade maior, mas o que veio é o que dá pra usar. Aquele azul ali no canto, quase passando desapercebido, pode compor quase todo o fundo. A gente não controla o que vem por aí, mas temos na mão a oportunidade de fazermos dessa pintura algo bacana com o material que nos vem à mão. Talvez a fé seja essa consciência de que Deus nos põe nas mãos as cores certas. É claro que podemos sentir falta de tons escuros, atentar à nossa própria noção do que parece melhor e jogar um punhado de lama na tela, mas com o foco certo, ouvindo a voz certa, esses estragos não precisam acontecer, e na pior das hipóteses ao menos não de forma irreversível.

  Não há nessa vida por enquanto uma solução para todas as dores do mundo, e nem é aqui que seremos plenos. Todavia, temos aqui uma direção, como soldados perdidos em uma mata escura que depois de muito tempo escutam uma voz no rádio que vai transmitir as tão esperadas coordenadas pra que se chegue no objetivo. É assim, sempre um passo no escuro, com fé de que essas coordenadas estão nos salvando da morte. E por fim, de que por mais que essa estranha planta com um caule cheio de espinhos não seja fácil de ser arrancada, aquela flor não é um detalhe, mas o objetivo pelo qual aceitamos tirá-a do chão. :]

sábado, 25 de agosto de 2012

A Jornada do Herói

shaddow-knight.tumblr.com
  Ontem foi o aguardado dia de assistir no cinema "Batman - The Dark Knight Rises". Bruce Wayne - Batman - é definitivamente meu personagem favorito entre a classe de heróis/super-heróis. Sim, bem melhor  que o Wolverine! hahah
  Não pelo estilo, por técnicas, pela sagacidade e capacidade, mas pela aura ideológica que cerca o homem-morcego. Um indivíduo que enfrenta seus traumas e seus medos e é capaz de chegar ao ponto de mergulhar no que mais lhe causa dor por amar os cidadãos de sua cidade; Um homem abastado e de vida segura que abre mão de seu conforto e empreende esforços para proteger os que o cercam, pondo a própria vida em xeque; Um cara que não se preocupa tanto com os holofotes sobre si, que admite não ser maior que qualquer cidadão altruísta em momentos difíceis, e que não deixa de o fazer quando a própria população aparenta por atitudes merecer mais a punição que uma mão amiga, merece no mínimo o meu respeito.
  Mas não vim falar de HQ's e afins... Por mais que eu insistentemente ouça aquela asneira do "pensa primeiro em ti", que tanto se incentiva hoje, lembro que não é essa a jogada. Sou cristão, e isso define bem o lado no qual devo me pôr. Jesus ensinou como se movem as peças no tabuleiro, e burlar as regras pode parecer vantajoso, mas invalida qualquer tipo de êxito no fim do jogo. Obviamente isso não implica em ignorarmos completamente a nós mesmos, mas ordena as prioridades.
   Foi entendendo o que Cristo fez que acabei aprendendo a amar pessoas à minha volta. E assim como, segundo Mulher Gato, Gotham não fazia por merecer, nos também não merecemos porqueira nenhuma da parte de Deus. Não é questão de mérito. Ainda que às vezes nem arranjem coragem de expor, por exemplo, no fundo sei de erros, digamos, graves e bastante fortes que pessoas por quem realmente tenho apreço cometeram ao longo dessa vida maluca, e é óbvio que esses erros não fazem diferença pra Deus - e é só o que faltava fazerem pra mim. Eu, nessa curta vida, erro, erro, erro todo o santo dia, e nem por isso deixo também de ter acesso ao perdão, a uma nova chance toda a vez. Cristo ensinou em vias bem práticas em que isso consiste. Ninguém que tenha acesso ao mesmo Cristo é mais ou menos pecador que outro, diante de um arrependimento real. Estaca zero, todos no mesmo time, e dane-se! Bora tocar a vida. É sempre assim. É isso o que nos conforta, o que nos liberta, nos reabre portas, e também o que nos põe em nosso lugar.
  O que realmente muda a concepção é a visão que permite enxergarmos as essências, as pessoas por quem são, e não pelo que nos representam. Não se trata de alguém me fazer bem ou não, em suma, mas de ser quem é. Nessa postagem bem vaga e nada intelectualmente sofisticada, no mínimo dá pra chegar à conclusão de que É ESSE O PONTO! Porque que pela lógica cristã, sem isso, se não fosse essa a percepção de Deus, não seriamos nada e nem teríamos chances. Sem exceção, estaríamos ferrados e com um destino nada promissor como única alternativa.
  O que forja um herói não são as habilidades, mas as atitudes, a luta e a motivação que o leva a lutar. No âmbito do cristianismo, sendo ou não difícil, estamos no mesmo balaio e com o mesmo objetivo. Batman em alguns aspectos daria uma boa parábola. :P
  Eu poderia fazer um combo com as argumentações de algumas outras postagens, mas não acho que seja o caso. O que me fica do link desses assuntos com o INCRÍVEL terceiro filme da trilogia de Nolan, é isso: 'Be a hero!' B]
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Sem tempo há séculos, mas de vagar quem sabe o blog volte à ativa... Tenho alguns pequenos textos na manga, em breve devo estar postando algo um pouco mais elaborado de novo.
Abraço procês!