"Eu não mereço ser estuprada". Uma
pesquisa mal conduzida fez a cabeça de muitos, e uma falha de análise de
contextos gera a outra. Estamos trabalhando de novo com o óbvio, como alguém
que segura um cartaz com um "A Terra é Azul" escrachado. Geralmente mesmo um
bandido qualquer sabe que uma mulher não merece passar por isso, tanto quanto sabe que é
errado roubar ou matar. E se não souber, é porque é insano, e se for insano,
não faz diferença que seja avisado. Aliás, esse consenso de que é errado era
ainda maior, ao menos em nível de discursos sociais, quando o cavalheirismo
ainda era parte fixa no imaginário social como um dever masculino. Mas essa é
uma visão “crua” das coisas, e eu sei disso, caso alguém tenha me achado um
neandertal. hahah
O
primeiro argumento que pensei em levantar quando vi conhecidas com os cartazes
portando aqueles dizeres foi o inegável: uma
bunda de fora – e peitos de fora também -, em nossa sociedade realmente sabem
despertar um homem, e se há uma menina “bem-vestida” ao lado de uma “mal
vestida”, a mal vestida tende a atrair mais a atenção de um. Mas vi logo que
havia outros pontos a se considerar. Eu tenho buscado adotar a política do “ser
tardio no falar”, e isso parece ter sido saudável. Quem me notou escrevendo
MUITO menos hoje em dia no Facebook, saiba que é tanto pela falta de tempo que
me cai agora, quanto por isso. :P
Não
foi difícil lembrar que – infelizmente, eu diria -, a maioria das meninas
estupradas – e meninos, já que não são só elas, e inclusive mulheres estupram –
que conheço, são crianças que nem sequer tinham o corpo “bem formado” quando essa atrocidade ocorreu. E se sairmos de nosso contexto, podemos desembocar por
exemplo na cultura islâmica: machista pra burro e com um alto índice de
estupros - muitos encobertos, como se sabe. E lembremos que em casos
mais extremados como o Afeganistão, basicamente dominado pelo regime do Talibã,
a burca é de uso comum. O ponto em que quero chegar e que a causa do estupro
parece estar muito mais relacionada com a vulnerabilidade que com a “decência”.
A vulnerabilidade
ser questão relevante é só mais um dos fatores que provam que um estuprador não
é um homem comum, mas um doente. E não digo ‘doente’ como quem justifica. São
criaturas que me inspiram a penalização legal de castração na melhor das hipóteses. Mas
o estupro, apesar de sujo, torpe e hediondo, ainda é um ato de cunho sexual, e
naturalmente relacionado à atração sexual. Não havendo aparentemente
estatísticas sérias que comprovem que a vulnerabilidade é o ÚNICO fator, acho
então natural pensar que uma garota com roupas “modestas” demais pode despertar
os instintos de um homem, sim, e inclusive de um estuprador – lembrando que
essa polêmica tem se restringido a esse tipo de estupro. Creio que sugerir a
uma menina que cubra um pouco mais o corpo, especialmente em situações que a
tornem vulnerável, deve ser encarado não como uma “regra opressora de uma
sociedade machista e patriarcal”, mas como no mínimo um bom conselho, dada a
situação das coisas – ninguém em sã consciência gosta de saber que pessoas
podem ser assaltadas, estupradas, espancadas e mortas quando saem na rua,
convenhamos. Os estupradores é que devem ser ensinados a não estuprar, assim
como os assaltantes devem ser ensinados a não assaltar, mas não vou por isso
andar com a minha carteira pendurada pra fora do bolso e deixar a casa aberta
quando saio – bom senso. Devo repetir, ainda assim, que nessa questão do
estupro o grande ponto parece mesmo ser a vulnerabilidade, e não a ‘decência’.
De toda a forma, não vejo como inválida a questão de se cuidar.
O
assunto tá longe de morrer e, na verdade, provavelmente não vai mais se tocar
no mesmo ponto de forma lá muito branda a partir daqui. Então se quiserem me
corrigir ou acrescentar algo, do this! Tamos aí pra isso!
Hey Tici, tua linha de pensamento foi muito sensata e coerente, tem o celo Dani de aprovação haushua
ResponderExcluir#voltacavalheirismo
Graaato, senhorita Dani! :P
ExcluirBem tua cara esse texto, mano. Guardo minhas opiniões críticas pra uma tarde em Nárnia, sem limite de caracteres ou logins. Quase te ouvi clamar estas linhas, com esse teu sotaque gaúcho bom de se ouvir! Acho memorável ver que algumas coisas em ti nunca mudam, especialmente o cavalheirismo.
ResponderExcluirPois eu realmente acho útil a opinião de uma psicóloga... Eu trabalho com o que tenho na mão, né. :P
ExcluirFico no aguardo dessas críticas! E fico no aguardo de uma tarde em Nárnia também, que isso é sempre bem-vindo! hahah
E grato, mana! Muito grato! :)
Muito lúcido. Infinitamente compartilhável. HAUHAUAHUAHU =D
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